sábado, 5 de fevereiro de 2011

Há uma geração sem palavras

“HÁ UMA GERAÇÃO SEM PALAVRAS”

A malhação física encanta a juventude com seus resultados estéticos e exteriores. O que pode ser bom. Mas seria ainda melhores se eles se preocupassem um pouco mais com os “músculos cerebrais”, porque , como diz o poeta e tradutor José Paulo Paes, “produzem satisfações infinitamente superiores”.
Marili Ribeiro


-O senhor já disse que a identidade nacional estava abalada pelo desrespeito à língua portuguesa. A situação continua a mesma ou se agravou?
-Temos hoje o que poderíamos classificar de uma geração sem palavras. O jovem em geral tem um vocabulário limitado e quase não tem o costume de conversar. Hoje eles vivem experiências praticamente idênticas. Eles assistem ao mesmo filme, jogam o mesmo videogame, torcem para os mesmos times ou um time diferente que nem chega a ser tão diferente assim. De modo que eles não têm o que comunicar um ao outro. A conversa deles é legal, ou então é isso aí. É uma espécie de linguagem enfática, de confirmação. Com isso eles vão perdendo a capacidade de formular o pensamento. A questão da língua não é tanto a questão da correção gramatical. O principal da língua é a capacidade de expressão, de construir pensamentos e de transmiti-los, fazendo-os inteligíveis. Esta capacidade é que está se perdendo progressivamente. A gente conversa com um jovem e vê que o falar dele é interrompido a todo o momento. Muitas vezes ele não chega a completar a frase. (...)
-Por que o que é mais fácil, digerível, atinge mais rápido as pessoas?
-Tudo vai depender do ambiente em que se vive. Se o indivíduo tem suas qualidades e virtualidades estimuladas vai desenvolve-las, caso contrário elas ficarão adormecidas. Um exemplo de luta contra a inércia muito presente na atual juventude pode ser vista na preocupação com a malhação, a ginástica e o esporte. É evidente que a ginástica interior é muito mais cansativa. Os músculos da inteligência são mais difíceis de adestrar, mas dão satisfações muito maiores. (...)
-Some-se a isso o que o senhor chama nossa síndrome do mazombismo...
-No Brasil estamos vivendo uma época de total mazombismo. É o Brasil da capital Miami. Que bom se fosse Brasil capital Atenas, ou Moscou. Cidades culturais. Mas é Miami. Na linguagem nós temos o chamado latim do marketing, que é o inglês. Eu tenho uma proposta que seria a de nós adotarmos o inglês como língua nacional, para podermos estudar o português como segunda língua. Aí todos a aprenderiam.

Jornal do Brasil, Caderno B, Rio de Janeiro

Obs.: Mazombo era, no Brasil colônia, o filho de portugueses nascido no Brasil que sofria de nostalgia por não ser europeu; atualmente, mazombo é o filho de pais estrangeiros que nasce no Brasil.

Um comentário:

  1. no meu livro de português tem esse texto e perguntas sobre ele e eu queria respostas

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