sábado, 12 de fevereiro de 2011

A desonestidade de cada dia

A desonestidade de cada dia

A desonestidade cometida nas relações de direito privado reflete-se na
administração pública o Estado clientelista privilegia
interesses patrimoniais pessoais em detrimento do bem público.


Faz pouco mais de 20 anos desde que terminou o período da ditadura militar no Brasil. Entretanto, alguns historiadores voltam ao Brasil Colônia para tentar compreender um traço cultural que marca a história do país: a cultura da corrupção, da desonestidade e de oportunismo, com o qual convivemos todo dia.
O problema não é uma eventual falta de legislação, mas a desobediência institucionalizada e a percepção de que as leis não servem para todos. Há mais honestos do que desonestos no país, mas os primeiros se sentem acuados. O jeitinho brasileiro é a certeza de que agir conforme o que estava escrito é ingenuidade e não permite avançar social ou economicamente.
Os diversos níveis de governo bem como os diferentes poderes – executivo, legislativo e judiciário – são formados por pessoas que nasceram e aprenderam a firmar-se nesta cultura. A prática da democracia representativa é mito importante, mas insuficiente para garantir o respeito ao direito público e ao bem-estar social. É preciso democratizar o poder, que muitas vezes é exercido por tecnocratas e funcionários que decidem onde, quando e como aplicar verbas orçamentárias. A promiscuidade que se revela em algumas relações desvela a necessidade de criar mecanismos de governança que permitam responsabilizar exatamente quem rouba e desvia dinheiro dos impostos para locupletar-se.
José Murilo de Carvalho alerta que o brasileiro precisa abandonar a cidadania passiva e receptora (Cidadania no Brasil: o longo caminho, Civilização Brasileira, 2004). É possível exercer mais pressão social sobre as famílias, vizinhança e outros espaços do seu convívio a fim de que os que exercem poder se sintam impelidos a agir dentro da ética necessária.
A desonestidade cometida nas relações de direito privado reflete-se na administração pública. O Estado clientelista privilegia familiares e interesses patrimoniais pessoais em detrimento do poder público. O antídoto passa pela educação para cidadania, que forme novas gerações com outra visão de mundo e pede o estabelecimento de controles eficazes, incluindo a vigilância popular da aplicação de recursos, uma polícia atuante, um judiciário que pratique justiça sem discriminação, prisões que funcionem sem tirar a dignidade das pessoas e a promoção da censura social, quando a população aprende a desprezar o desonesto, seja ele corruptor ou corrompido.
Luciano Sather – Revista Novo Olhar Nº 16 - 2007

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