segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Agressão sonora



Agressão sonora

Usar fones de ouvido no máximo e durante muito tempo pode causar
surdez lenta, progressiva e irreversível


Basta transitar pelas ruas para ver diversas pessoas grudadas a fones de ouvido. Absortas em seu universo particular, elas podem passar horas conectadas a aparelhos de música digital, enquanto vão de um lugar a outro ou desempenham alguma atividade. Desavisados, muitos não sabem que, dependendo da intensidade do som e do tempo de exposição, esse hábito acarreta perda de audição lenta, progressiva e quase imperceptível, mas irreversível depois de instalada.
Os headphones (fones de ouvido) estão por toda parte. Não que os fones sejam proibidos. Porém, na maioria das vezes eles são usados em altíssimos decibéis (dB) e por períodos prolongados. “O indivíduo pode se expor por quatro horas em ambientes acima de 90 dB; uma hora acima de 100 dB; 15 minutos acima de 110 dB; e sete minutos acima de 115 dB. Mais que isso é intolerável para o ouvido”, informa o otorrino Júlio Miranda, membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia. E aí está o perigo. Normalmente, a emissão sonora de aparelhos alcança a potência de 100 dB, mas a maioria deles não apresenta a medição, nem informa ao comprador a forma correta de uso.
Outro grande problema é a proximidade da orelha média e interna. “Os fones colocam o som muito próximo do sistema auditivo, amplificando as ondas sonoras que chegam até a cóclea, órgão que processa o som dentro da orelha”, afirma o otorrino Marcio Fortini, presidente da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia. Os fones pequenos e anatômicos (auriculares), que se encaixam no conduto auditivo externo, proporcionam ainda mais riscos, pois aumentam a pressão e a intensidade.
O uso indevido de fones também pode causar o trauma acústico, uma lesão imediata causada pela exposição a sons de altíssima intensidade. O som alto ainda pode provocar insônia e estresse.
Por fim, há a questão da higiene do aparelho: se os headphones não estiverem limpos, podem causar infecções no canal externo da orelha (otites), principalmente se compartilhados.


Sintomas irreversíveisNormalmente, as pessoas só percebem que estão perdendo a audição quando começam a ter dificuldades no convívio social ou profissional. Além de não conseguir entender algumas palavras dentro de limiares normais, elas passam a ouvir zumbidos e ter sensação de pressão e desconforto nas orelhas. No caso de crianças e adolescentes, há prejuízo no aprendizado. Infelizmente, esses sintomas só começam a se apresentar quando o processo de perda auditiva já está instalado.
Para o diagnóstico, é preciso se submeter ao exame de audiometria – teste realizado por um fonoaudiólogo que avalia o nível de audição. “Porém se as células sensoriais da orelha interna, especificamente na cóclea, estiverem realmente lesadas, não existe nenhum tratamento cirúrgico ou medicamentoso para recuperar a audição perdida”, lamenta o otorrinolaringologista Cheng T-Ping, doutor pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Não dá para marcar bobeira. Antes que isso aconteça, é fundamental prevenir os danos para a audição, utilizando os headphones de forma cuidadosa. Nesse sentido, os fones modelo “concha”, que cobrem a orelha, são teoricamente menos danosos. “Outra orientação é não escutar a música tentando abafar os sons externos. Isto é, o volume nunca deve estar no máximo”, aconselha T-Ping. Fique de olho também no tempo de uso, não mais que uma hora por dia. Lembre-se: a surdez é irreversível.



Decibéis em potencial:Turbina de avião a jato: 140 dB
Arma de fogo: 130 dB
Serra elétrica: 110 dB
Shows de rock: 105 a 120 dB
Trânsito metropolitano: 105 dB
Piano forte: 92 a 95 dB
Fones no volume 5: 95 dB
Como utilizar o fone de forma segura
• Opte por modelos tipo “concha” que recobrem toda a orelha
• Nunca escute música no volume máximo. Controle-o abaixo dos 80 dB
• Não encubra o som ambiente aumentando a intensidade da emissão do aparelho
• Reduza o tempo de uso para no máximo uma hora diária
• Quando estiver em casa, prefira o aparelho de som convencional
Fonte: Revista Vida e Saúde - Fevereiro/2011 - Reportagem de Fernando Torres (com adaptações)
Imagem: http://mzportal.com.br/wp-content/uploads/2015/08/ouvido.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário! Obrigada!