quarta-feira, 9 de março de 2011

Alimentos e emoções


Alimentos e emoções

A família reunida em volta da mesa, o cheirinho que vem da cozinha, os filhos ansiosos pelo prato principal da família, os elogios, a mesa arrumada. Esses elementos formam a nossa relação com a comida e constrói memórias que
podem fazer muito bem.


A relação emocional com a comida pode não ser percebida por todos, mas é interiorizada e dita nossas escolhas. O cozinhar é uma forma de declarar amor e une os membros da família. O problema disso tudo é que com o passar dos anos fica cada vez mais difícil encontrar pessoas que cozinhem.
Com a entrada e o crescimento da mulher no mercado de trabalho, fazer comida ficou em último lugar e se tornou algo que as moças nem fazem mais questão de aprender para casar. Ou você anda vendo nora e sogra disputando a preferência do noivo nos dias de hoje? Raro, quase extinto. Mas, ao deixar esse costume de lado, foram sendo deixadas também importantes ligações entre os familiares e os cônjuges, e o valor nutricional da alimentação caiu junto.
Na pressa do cotidiano sem calma as comidas prontas formam o cardápio moderno que todos sabem ser nada saudável, pior: é viciante um estudo feito pelo Scripps Research Institute, da Flórida comprovou que a compulsão por comidas gordurosas como doces e frituras age no cérebro como a compulsão por cocaína ou heroína. Além de difícil tratamento, esse comportamento com a comida desativa no cérebro áreas ligadas à satisfação, ou seja, quanto mais se come, mais vontade da de comer. Os resultados o mundo vê na forma de obesidade que já virou epidemia. O mundo globalizado produz muito mais comida que dá conta de comer e mesmo assim existem milhões de pessoas com fome e quase o dobro disso de gente precisando perder peso. Não parece maluca essa relação com a comida?
No interior, ainda se vê a tradição de juntar a família nas refeições e assuntos polêmicos ou brigas são proibidos.
Curiosamente, é lá no interior que as doenças demoram a chegar e o estresse ainda é doença estranha de gente da cidade. “É preciso entender que deve existir um clima especial em volta da mesa para a comida ser de fato saudável. Se, ao se juntar para comer, e no lugar da harmonia houver gritaria, cobranças e clima de discórdia, a criança vai vincular essas emoções à sua relação com a comida. Se houver briga durante a comida caseira, faz menos mal um fast food”, pondera o psicoterapeuta Marco Antônio De Tommaso. Para ele o que a criança vê a influencia. Se tem sempre saladas, comidas saudáveis, ausência de refrigerante, isso molda o comportamento dos filhos.
O fato é que alimentar-se envolve os cinco sentidos: o cheirinho do bolo quase pronto, a fumacinha subindo dele ou a margarina escorrendo sobre o pedaço ainda fumegante, o sabor de chocolate, fubá, maçã e a textura macia ou cremosa que percebemos ao passar o dedo sobre a cobertura ou empurrá-la com nossos dedos. O clima na cozinha, o tempo para o bate-papo enquanto tudo é preparado, o cheiro de canela, a criança que se lambuza limpando a forma, são elementos que dão significado à interação das pessoas com os alimentos. Nosso cérebro registra tudo isso e compõe imagens e cheiros que nos acompanham por uma vida.
Mas se você está se sentindo culpado, calma lá. A psicóloga Maria Marta Ferreira ressalta que as mudanças sociais levam as pessoas a se adaptarem. “Muitas mulheres não cozinham, mas elegem o restaurante preferido da família e se reúnem para momentos especiais. Outras reservam hora para buscar o pão quentinho da padaria preferida da família”. Para a especialista em alimentação e transtornos alimentares, a comida não é apenas nutrição e sustento para a vida. “Está repleta de cores, sabores, odores e texturas que ajudam as pessoas a demonstrar afeto e celebrar dias especiais, nem que o bolo seja comprado no supermercado. Isso é mais forte que modismos ou conveniências. É humano e vai resistir aos modernismos.”
Fonte: Revista Vida e Saúde / Dez / 2010
Fabiana Bertotti (colaboradora especial de Vida e Saúde)
Imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnPRWVbGN8gkusrMIlF7p6oExQyWLJKx439y5xLAx0P6-7RK1WAYvckQU_f1d6CYJl1EY8uchchpYRdwNk6bSYCyY2i5lNrWGKxxa17ADqKmXp8wjcVDJiXFDLJfef95mPR_hKfjjGL9Wn/s1600/Br%C3%B3colis-alimentos+e+emo%C3%A7%C3%B5es.jpg

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